segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Circo sem futuro

Um nariz vermelho, roupas coloridas e um sapato 7 numeros maior que seus pés. Era tudo o que tinha. Via a vida passar através da janela de um caminhão. Nao constituia família, por nao se relacionar com nenhuma mulher que nao fizesse parte do circo. A rotina nao fazia mais graça. Queria chorar mas seu trabalho era sorrir o sorriso mais vazio que se pode sorrir.

Em meio à montagem da tenda, observava volta e meia a contorcionista. Não era a mulher de seus sonhos, mas tinha um quê que chamava sua atenção, porém ela já se relacionava com o apresentador dos espetáculos que também era dono do circo. Ele nao tinha nada a oferecer, além de pataquadas forjadas que já nao eram engraçadas à quem presenciava aquilo todos os dias durante espetáculos e ensaios.

Não tinha coragem para declarar-se, pois todas as vezes que fez isso com uma mulher, decepcionou-se. O medo do fracasso o paralisava, até que um dia, cansado daquela vida, decidiu fazer as malas e sair pelo mundo, vagando sem rumo pela cidade em que o circo estava montado.

Antes de ir, olhou em sua cabeceira e avistou um papel dobrado. Tinha cheiro de perfume feminino, mas nao sabia de quem era. Relutou em ler o tal bilhete por ter pressa de sair daquele lugar, mas leu.

“Marcos,

Há tempos percebo que sente-se infeliz com essa vida inconstante. Desde a primeira vez que botei meus pés aqui, me apaixonei por você. Sei que é acanhado fora dos palcos e não se mistura com o resto do grupo por se sentir um peixe fora d´água.

Só quero que saiba que, se for embora, não sei o que farei. Você é minha única razão para continuar por aqui. Não se vá.”

O bilhete não estava assinado, mas quis acreditar que foi a contorcionista que lhe enviou. Uma lagrima escorreu em seu rosto. No meio da noite, pegou suas malas e se foi, amassando o bilhete e jogando por entre os ombros sem olhar pra trás, deixando apenas a lembrança do doce rosto da contorcionista e seu suposto bilhete.

O vicio

O stress, a rotina e o cansaço estavam acabando com aquele rapaz. Coisas estranhas aconteciam com aquele jovem de apenas 19 anos, como vontades repentinas de fumar um cigarro, mesmo sem nunca tragar um cigarro, mas tentava se segurar para não se entregar ao vicio. A única forma de escapar do cigarro era viciar-se em café, mesmo odiando bebidas quentes. Melhor o estômago que o pulmão, pensava consigo.

Há tempos não dormia noites inteiras, e quando conseguia, ficava tao cansado quanto se estivesse virado a noite. O teto era seu único amigo, o único que o escutava sem o julgar, encarando em silêncio. Em meio às conversas com o teto, a necessidade de um cigarro era ainda maior. Sentia-se um viciado sem mesmo ser fumante dependente da nicotina. Talvez o fumo passivo esteja cansado de ser apenas passivo e tornar-se ativo. As vezes que fumou não foram tão agradáveis, o gosto ruim na boca no dia seguinte não valiam a pena, além de presenciar casos na família que não lhe traziam boas lembranças.

Lembrava do passado, de como a vida era mais fácil, de como as responsabilidades eram singulares, de como o tempo era apenas medido pelo relógio e não era escasso. Sentia-se só e o cigarro talvez fosse a tentativa de ter algo para lhe fazer companhia. Vivia sozinho de saudade. Sentia saudade de ter saudade de alguém. E esse alguém, cadê?

Vivia em frente ao seu notebook (substituto da máquina de escrever esquecida em sua casa em São Paulo), escrevia seus textos mas o cigarro lhe fazia falta. Não sabia o porquê dessa dependência daquele objeto branco que só lhe poderia oferecer dias a menos de vida. Talvez seja isso que quer. Viver pra que, se a saudade não lhe é presente.

Amava uma garota - loira, um pouco mais baixa que ele, mesmos gostos musicais e mesmo estilo, que o deixava nervoso sempre que se aproximava - mas ela não sabia. Eram aqueles amores à primeira vista, que não existem com tanta freqüência nos dias de hoje. Seguia tímido a tortura do amor não correspondido. Sua única fonte de alegria era mostrar-lhe novas músicas ou conversar sobre elas e conseguir retirar um sorriso dela. Sabia que aquele sorriso era apenas pra ele. Disso ele sentia saudades nas noites chuvosas de sábado em que o teto esperava seu papo chato e ele apenas conseguia olhá-lo, deitar sua cabeça em seu travesseiro e dormir, sem que o cigarro pudesse atormentá-lo.

Ela era o seu único estimulo para que ele acordasse todas as manhãs para trabalhar o dia todo e ir para a faculdade todas as noites para vê-la. A saudade já não era tão escassa em seu peito, mas há tempos não sabia o que era o contato físico e com isso a carencia aumentava ainda mais.

A carência é sua fiel companheira, o cigarro tenta conquistá-lo dia após dia e o teto e o notebook são seu ombro amigo. Segue cansado do abstrato, mas caminha em frente por sentir vontade de buscar um futuro melhor,ou menos pior que viver a vida na ilusão.

As Aparências

De uns anos pra cá tenho sentido uma certa dificuldade na hora de responder minha idade, nao por ter a idade avançada registrada no R.G., mas por nunca acreditarem que tenho apenas 19 anos, talvez seja a barba e a cara sempre fechada. Isso, talvez tenha se dado por, quando pequeno, a tentativa de parecer mais velho sempre me foi a mais tentadora, usar camisas lisas em vez daquelas cheias de desenhos, calça jeans em vez de bermudas vermelhas e gritantes e etc. Hoje talvez pague o preço de tentar viver a época que não a minha.

Só que é engraçada a reação das pessoas:

- Quantos anos você tem mesmo?

- 19.

- NOSSA! Eu sou mais velha que você? Para de mentir!

- Tô falando sério. 04/03/1989. To meio acabadinho hehehehe

- Jurava que tinha 21!

Tá. Não é tão engraçado assim.

Porque nao posso ter 19 anos? Quando tinha 18, ninguém estranhava tanto assim, ou pelo menos nao era tao escrachado. Só porque nao tenho a mesma carinha de bebê que os menininhos da televisão tem?

Depois de uma certa reflexão sobre tal assunto, percebi que o jeito é mentir a idade, contrariando aquelas velhinhas que sempre mentem a idade, diminuindo-as, agora eu acrescento mais um ano de vida e a estranheza não acontece.

- Quantos anos?

- 20 e você?

- 19.

- Hmmmmmm. ( Será que ela tá mentindo? Não não, o único doido de aumentar a idade aqui sou eu. )

Consegui entender o porquê da estranheza de todos quando dizia que tenho 19 primaveras, pois 19 está na casa dos 10, e 20 está na de 20 (dã). É apenas um ano diferente, mas psicologicamente a diferença é gritante, assim como os produtos de R$1,99, se fossem 2,00 você os achariam caro, mas como ele ainda está na casa do 1 real, lhe parecem barato. Só neste momento consegui entender isso tão bem.

Malditos marketeiros que até nisso influenciam minha vida.

Espera só eu me formar…

Adeus...

*escrito dia 18/08/2008 por volta das 20:30

Não tive a oportunidade de me despedir dos meus avós maternos por conta da distância, e mais uma vez acontece o mesmo com meu avô paterno. Não pude ter muito contato com ele, mas sei que por momentos, mesmo que longe, ele se lembrava que era o “Vô Jiraya”.

O inesperado sempre dá as caras, abalando cada um de maneira diferente e comigo não é diferente porém com intensidade inferior. Mesmo sem descabelar-me em prantos, sentirei falta daquele homem que criou meu pai e tios com todas as dificuldades possiveis.

Consigo entender a fraqueza de meu pai por não querer presenciar tal fato, afinal quem gostaria de estar na mesma situação? Sei que iso é uma defesa, uma forma de não ter que massacrar-se todas as vezes que se lembrar do homem que o criou daquela forma.

Infelizmente a vida é assim: basta estar vivo para que ela termine. A unica certeza é a de que onde estiver, estará melhor dos que por aqui se encontram.

Adeus, vô.

Adeus, Vô Jiraya.

domingo, 24 de agosto de 2008

Passou e nem parou para um cafezinho

A quantidade de pessoas que passam por nossas vida é incontável, mas o numero de mulheres que passaram em minha vida é pequeno, porém, difícil de esquecer. Ao todo são 6, talvez 7 com a de agora. A primeira apareceu logo quando cheguei em Resende, aquela namoradinha de colégio, aquele namoro de apenas se olhar, sentar ao lado na hora do lanche, pegar na mão na hora de formar a fila e sair da sala, desenhar-se com ela sempre no mesmo cenário, sonhar com ela todas as noites e etc. A primeira a gente nunca esquece, o primeiro sempre é mais puro, e mesmo após anos quando ela passa o frio na espinha retorna, como se fosse ontem, dando lugar a saudade daquele tempo.

As outras foram normais, amores platônicos que não deixam saudade, apenas aprendizado, apenas pessoas que passaram pela vida.

O primeiro foi simples, foi apenas mostrar lhe um desenho seguido de um versinho bobo que havia feito que consegui o que queria. Lembro até hoje a vez que fomos ao circo com o colégio e ela pegou em minha mão soltando apenas para ir embora. Se todos tivessem sido assim seria mais fácil.

Os demais foram todos iguais, platônicos, e quando revelados foram seguidos de desculpas e afastamento. Hoje entendo que não é fácil receber uma revelação dessas, mas na TV tudo parece tao fácil que imaginava que na realidade também seria assim. Não as julgo, a culpa era minha. Meu coração tem mania de amor, não vive sem, e quando vive parece não haver razão.

Hoje, mais uma vez, sigo o mesmo dilema. Todas passaram pela minha vida, sem ao menos tomar um café e dar um “dedo” de prosa e amedronto-me só de imaginar se todas as que estão por vir serão assim.

sábado, 16 de agosto de 2008

Platônico como sempre

Era seu primeiro dia e tinha que esperar o ônibus durante longos minutos. No ponto, não conhecia ninguém, apenas presumia que quem por lá estava também pegaria o mesmo ônibus que ele. Torcia para que algum conhecido aparecesse e sua aflição desaparecesse, mas pelo contrário, cada vez mais desconhecidos chegavam e faziam aumentar seu receio de perder ou pegar o ônibus errado.
Mesmo com 19 anos, brincava consigo mesmo de joguinhos dignos de crianças, para que o tempo passasse mais rápido, como qual a cor do próximo carro que por ele irá passar e etc, e dessa vez não foi diferente, apostava consigo mesmo que toda mulher que lhe chamava atenção iria sentar nos banquinhos da praça onde espera o ônibus. Não foi feliz em todas as vezes e quando desistiu dessa bobagem, apareceu uma mulher, aparentemente com a mesma idade que a dele, loira, carinha de boneca. Lindíssima! Como havia se dado mal nas outras vezes, logo pensou que ela passaria por ele e seguiria seu caminho, mas inesperadamente sentou-se nos bancos ao lado e colocou sua bolsa no colo. A alegria e o alívio sem razão ocuparam o lugar da angústia que se encontrava em seu peito.
Ao entrar no ônibus, teve que procurar durante longos segundos um lugar para se sentar e por sorte havia uma vaga do lado de um velho conhecido. A conversa foi colocada em dia, porém seus olhos não desviavam dela, mas pegou no sono rapidamente por conta do cansaço. Acordou logo no fim da viagem, na hora certa de vê-la sair um ponto antes que ele. Entusiasmou-se ao presumir que veria na volta e esperariam novamente o ônibus no mesmo ponto.

A volta foi semelhante à ida e nas semanas seguintes também. Angustiava-se por não conseguir trocar uma palavra que não foi um singelo oi com ela. Desde sempre entusiasmava-se com mulheres que lhe chamavam atenção, sem haver distinção de beleza, o amor platônico sempre tinha que ser levado em conta pois, era inevitável. Passou semanas apenas idealizando a forma que conseguiria conversar decentemente com ela. Ensaiava ao conversar sozinho, enquanto esperava a porta do recinto em que trabalha ser aberta por alguém, conversas que poderiam ter, sem ter medo do ridículo, de alguém chegar e vê-lo quase que contracenando sozinho em meio ao 4° andar de um prédio repleto de escritórios.

Numa sexta-feira qualquer, por volta das 22 horas – hora em que espera o ônibus para voltar pra casa – somente ele se encontra no ponto e as esperanças de revê-la são escassas. Minutos passam, pessoas chegam e desiste de encontrá-la. Começa a puxar papo com terceiros e quando percebe ela está ao seu lado. Profere um “oi” tímido, ela responde com normalidade e começaram a conversar descontraidamente. Dias atrás havia escutado um comentário dela sobre uma banda, que coincidentemente ele está preparando um material publicitário para um show que acontecerá daqui uns meses. Comentou sobre isso, já prevendo sua reação. Foi o ponto crucial para que conversassem durante 1 hora aproximadamente, o tempo da volta. Seu medo maior era que o papo acabasse, tivessem que sentar em suas poltronas e dormir como todos fazem ao entrar no ônibus. De fato, certas vezes o papo acabou mas era retomado logo em seguida por algum comentário de ambas as partes, mais da parte dele como é de se esperar. Quando ela saiu, um perguntou o nome do outro, porém ele já sabia seu nome, mas perguntou pra dar continuidade à conversa e terminando-a com um comentário daqueles que você se envergonha após dizer por conta do nervosismo.

O sorriso era difícil de controlar e só percebeu que estava conversando alto demais após olhar para seu redor e perceber que haviam pessoas que o encaravam com cara de sono, e perceber que quem conversava por perto mantinha o tom de voz inferior ao deles. Não é nada que possa atrapalhar aquele momento, que talvez seja o início de mais uma paixão platônica, como todas as outras que ele já teve e sentia falta do sofrimento.



sábado, 3 de maio de 2008

Queda fenomenal

Neste sábado, foi veiculado pela mídia a quebra de contrato entre a empresa de telefonia Tim e o jogador Ronaldo Nazário de Lima, mais conhecido como "Fenomeno"., por conta do incidente ocorrido dias atrás com travestis. É lamentável a situação do jogares eleito 2 vezes o melhor do mundo e uma das figuras mais influentes do mundo.

Quem, quando criança na época do auge do jogador, nao pensou em raspar a cabeça, sonhou até em ter aqueles dentes tortos ou, na copa de 2002, deixou ou almejou ter aquele penteado à la Cascão? Sem dizer que, em 2006, enquanto estava alguns quilos acima do peso, virou apelido para os gordinhos de plantão, apelido aceito com maior naturalidade, tirando o lugar momentaneo dos antigos e maldosos "rolha de poço", "bola", "baleia" e etc. Era até música para os ouvidos dos gordinhos ser chamado de Fenomeno. Dias atrás, o Kaká foi eleito uma das 100 pessoas mais influentes do mundo - único brasileiro da lista - porém ninguém, no meio de uma peladinha entre amigos, tenta imitar um de seus dribles, deixa o cabelo crescer para ficar igual a ele ou pensa em se casar virgem. O "Fenômeno" tem a vida que qualquer um sonhou ter, até que o incidente manjou um pouco sua imagem.

Todavia, como uma figura influente, já pensou se a moda pega? Chega seu filho em casa de maos dadas com um travesti? É, não duvido muito que isso pode acontecer. Se ao estranhar este fato e questiona-lo por chegar com aquele sujeito em casa, seu filho disser que não é nada disso que está pensando e que ele está extorquindoo-o pedindo 50 mil reais para nao espalhar a todos do bairro, certamente a imagem do ex-gorducho fenomenal lhe arremeterá em sua cabeça. Agora é torcer pra que isso não aconteça.